UE sem consenso sobre apoio militar letal contra terrorismo em Cabo Delgado
- 29/10/2025
"É uma questão que ainda está na mesa da discussão e é uma questão aberta, no sentido de que nós registámos o pedido que foi reiterado várias vezes e compreendemos as razões desse pedido. Neste momento não há um consenso entre os 27 Estados-membros da UE para avançar sobre a questão militar", disse o embaixador da União Europeia (UE), Antonino Maggiore, referindo-se aos pedidos anteriores do Governo moçambicano.
O diplomata respondia a perguntas dos jornalistas após a terceira sessão do Diálogo Político Setorial na área dos Direitos Humanos entre o Governo de Moçambique e a Delegação da União Europeia, hoje, em Maputo, tendo recordado que os Estados-membros continuam a ajudar o país com a capacitação de militares para enfrentar a insurgência no norte.
"Queria ser muito claro que neste momento não há uma decisão, porque não há um consenso, mas só para dizer que o diálogo sobre esse assunto continua, porque é claro que não é uma questão fixa, estamos a refletir, a avaliar, porque claramente queremos fortalecer o nosso apoio", disse Antonino Maggiore.
Em 20 de setembro, a Lusa noticiou que os países da UE debatem sobre a forma de apoio militar ao combate ao terrorismo na província moçambicana de Cabo Delgado.
Em 10 de setembro, o novo comandante da Missão de Assistência Militar da União Europeia em Moçambique (EUMAM-MOZ), o português César Pires Correia, prometeu continuar a capacitação das forças moçambicanas para manterem uma "posição firme no combate" ao extremismo em Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques extremistas há oito anos, com o primeiro ataque registado em 05 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que pelo menos 44 pessoas morreram e outras 208 mil foram afetadas no mês de agosto pelos ataques de grupos extremistas em Cabo Delgado.
De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), até agosto, Moçambique também reportou um total de 111.393 pessoas deslocadas, a maioria provenientes de Cabo Delgado (109.118), apesar de terem sido registadas movimentações de pessoas nas províncias de Niassa e Nampula.
"Os civis continuam a enfrentar graves riscos de segurança e proteção, incluindo raptos, pilhagens e ameaças", refere-se no documento, acrescentando-se que estes incidentes, em agosto, "resultaram em 44 mortos e 101 raptados, entre eles seis crianças e cinco mulheres".
Acresce que a insegurança, combinada com reduções "significativas" no financiamento humanitário, limitou "severamente" a capacidade dos parceiros para alcançar as populações afetadas.
Quase 93 mil pessoas fugiram de Cabo Delgado e Nampula desde finais de setembro devido ao recrudescimento dos ataques no norte de Moçambique, duplicando o número de deslocados em poucos dias, segundo anteriores dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) contabiliza 6.257 mortos ao fim de oito anos de ataques em Cabo Delgado, alertando para a instabilidade atual.
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