Tarde, mas necessário. Governo e vítimas apoiam decisão de Carlos III
- 31/10/2025
Políticos britânicos, familiares de uma vítima de abusos sexuais e comentadores apoiaram hoje a decisão de Carlos III de retirar ao irmão André o título de príncipe e a residência oficial, no âmbito do caso Epstein.
Sobre esta medida, que a Casa Real britânica considerou necessária para preservar a credibilidade da monarquia na sequência de novas revelações sobre a relação do ex-duque de York com Jeffrey Epstein, o ministro do Comércio britânico, Chris Bryant, disse que "a grande maioria das pessoas vai achar que é a coisa certa a fazer", sublinhando que André "é agora um cidadão comum" e deve "responder a todas as questões a serem colocadas pelas autoridades".
Julian Payne, antigo secretário de Comunicação do rei e da rainha, considerou ter sido "atingido um ponto de viragem" no escândalo que há anos envolve o irmão de Carlos.
"A família real percebeu que não podia continuar a ignorar o impacto desta situação na confiança pública", disse Payne.
Esta decisão histórica, que priva André dos títulos e da residência no Royal Lodge, foi tomada depois de novas revelações sobre o prolongamento da relação com o criminoso sexual Jeffrey Epstein e após a publicação de um livro póstumo de Virginia Giuffre, que o acusa de a ter explorado sexualmente quando era menor.
A família de Giuffre, que morreu em abril aos 41 anos, saudou a decisão de Carlos III como "um ato de justiça simbólica".
"Hoje, uma rapariga norte-americana comum derrubou um príncipe britânico com coragem e verdade", afirmou a família em comunicado.
O irmão de Giuffre, Sky Roberts, elogiou o monarca por "estabelecer um precedente ao dizer: 'vou responsabilizar o meu irmão'". Mas alertou que "ainda não é suficiente, porque André continua em liberdade".
Peter Hunt, antigo correspondente da emissora britânica BBC para assuntos da realeza, comentou que Carlos III "tentou evitar um novo abalo na instituição" e "mostrar que compreende a gravidade do momento".
André, que será agora designado André Mountbatten-Windsor, nega todas as acusações e prepara-se para deixar a mansão de Windsor, onde vive há mais de 20 anos, para se instalar numa residência privada do rei em Sandringham, em Norfolk. Carlos vai continuar a apoiar financeiramente o irmão.
As ligações entre André, de 65 anos, e o financeiro, criminoso sexual e pedófilo norte-americano Jeffrey Epstein têm envenenado a vida da família real britânica há quase 15 anos.
A última vez que um príncipe foi destituído do título pelo rei remonta a 1919, no reinado de Jorge V.
O escândalo foi divulgado em 2011, quando Virginia Giuffre, a principal acusadora de Jeffrey Epstein, acusou o segundo filho de Isabel II de a ter usado como escrava sexual, incluindo duas vezes quando tinha 17 anos.
André negou sempre as acusações.
"Apoiamos totalmente a decisão tomada ontem pelo Palácio", reagiu um porta-voz do governo trabalhista de Keir Starmer, que normalmente não se pronuncia sobre assuntos reais.
Embora os britânicos tenham aplaudido a decisão do rei, muitos também salientaram que chegou tarde.
De acordo com uma sondagem do instituto YouGov, 58% dos inquiridos consideram que a família real esperou demasiado tempo para agir contra André, que não exercia qualquer função oficial desde 2019.
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