Supostos terroristas saqueiam campos agrícolas em Cabo Delgado
- 31/10/2025
Segundo fontes locais, o alvo do saque dos supostos rebeldes tem sido a produção de milho, feijões e verduras, da segunda época produtiva, ao largo do regadio Nguri, na baixa de Miangalewa, a cerca de 25 quilómetros da sede do distrito de Muidumbe,
"Estão a tirar nossas culturas das machambas [campos agrícolas] e isso já vai nos provocar fome", disse uma fonte a partir de Miangalewa.
Estes saques têm vindo a suceder-se desde setembro, quando algumas culturas trabalhadas pela população local começaram a ficar prontas para o consumo, pouco antes do início da época das chuvas, de outubro a abril.
"Não sei o que será de nós no tempo das chuvas, porque em Miangalewa temos abandonado, por medo deles", lamentou a fonte, pedindo o apoio dos militares.
A constante presença destes grupos rebeldes naqueles campos agrícolas já levou várias famílias a abandonarem essas zonas de cultivo, nomeadamente para as comunidades próximas de Miangalewa e Primeiro de Maio.
Um levantamento da organização ACLED, noticiado hoje pela Lusa, estima que a província moçambicana de Cabo Delgado registou, pelo menos, 12 eventos violentos entre 13 e 26 de outubro, essencialmente envolvendo extremistas ligados ao Estado Islâmico, provocando 18 mortos entre civis.
De acordo com o mais recente relatório da organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês), dos 2.236 eventos violentos registados desde outubro de 2017, quando começou a insurgência armada em Cabo Delgado, um total de 2.061 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.659 mortos, refere o novo balanço, incluindo as 18 vítimas reportadas em menos de duas semanas em outubro.
O relatório da organização refere ainda que, neste período, Cabo Delgado, no norte de Moçambique, província rica em gás, "testemunhou um aumento na atividade insurgente", com elementos associados ao EIM a atacarem as forças de segurança nos distritos de Montepuez e Muidumbe, "provocando baixas".
"Os insurgentes também continuaram a matar civis nos distritos de Mocímboa da Praia, Muidumbe e Metuge. As operações do EIM foram agravadas por outros padrões de instabilidade, particularmente em torno de áreas de mineração em Montepuez", escreve a ACLED.
A organização aponta igualmente "o risco contínuo para as comunidades piscatórias", apanhadas em ataques de insurgentes e em ofensivas das autoridades contra os grupos terroristas. Além disso, a "dispersão da atividade" por Cabo Delgado "sugere" que estes grupos operam "em unidades dispersas", permitindo "aos insurgentes expandir as operações para além dos tradicionais redutos".
Um dos casos identificados no balanço da ACLED, que a Lusa noticiou na altura, é a emboscada em 21 de outubro, confirmada pela autoridades moçambicanas, a agentes da polícia que escoltavam automobilistas na estrada N380, entre Awasse e Macomia, provocando a morte do motorista da viatura policial, "atingido por um lança-granadas".
"A emboscada interrompeu o tráfego por várias horas. A emboscada provocou pânico nas aldeias vizinhas e na capital do distrito, Namacande, levando alguns moradores a fugir, de acordo com uma fonte local. O Estado Islâmico (EI) publicou posteriormente imagens do ataque, mostrando a carrinha Mahindra [da polícia] queimada e o corpo do policial morto. Numa atitude rara, o ministro do Interior, Paulo Chachine, confirmou a morte do policia", lê-se.
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, considerou, em 06 de outubro, como "atos bárbaros" e contra a "dignidade humana" os ataques que se registam em Cabo Delgado.
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