Saúde de Lai deteriora-se na prisão: "Unhas caem e dentes apodrecem"
- 31/12/2025
A filha de Jimmy Lai, antigo magnata da comunicação social pró-democracia em Hong Kong detido desde agosto de 2020, contou que o pai enfrenta vários problemas de saúde na prisão, incluindo "problemas cardíacos que nunca teve antes". Além disso, as suas unhas "ficaram cinzentas e, por vezes, caem" e os "dentes estão a apodrecer".
Em declarações à BBC, Claire Lai, que vive exilada em Londres, Inglaterra, contou que teme "nunca mais ver" o pai e tem medo que o magnata "se torne um mártir"
"Não quero que ele se torne um mártir. Mas não estaria aqui hoje, não estaria a falar abertamente se não acreditasse que esta é a sua melhor hipótese de se reunir com nossa família", afirmou.
Na altura em que foi detido, por suspeita de conluio com forças estrangeiras ao abrigo da então nova lei de segurança nacional de Hong Kong, Jimmy Lai, cidadão britânico, era "um homem extremamente robusto e forte", mas, ao longo do último ano, "perdeu muito peso".
"É diabético, tem problemas cardíacos que nunca teve antes. As unhas ficam cinzentas e, por vezes, caem. Os dentes estão a apodrecer", disse Claire Lai.
"Sente dores nas costas e na cintura. Alguns dias, é doloroso para ele estar de pé. Às vezes, não consegue estar de pé. E, em alguns dias, nem consegue sair da cama", acrescentou.
No início de dezembro, um porta-voz do Gabinete do Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em Hong Kong garantiu que os "direitos e interesses legítimos de Lai foram totalmente protegidos e ele está de boa saúde".
O responsável garantiu ainda foi dado a Lai "um ambiente de custódia seguro, humano, apropriado e saudável, em conformidade com a lei".
O esclarecimento surgiu após os filhos de Lai terem alertado durante um encontro com jornalistas, em Washington, que o magnata tem sido mantido em regime de solitária sem ar condicionado numa prisão onde as temperaturas no verão atingem os 44°C.
A justiça de Hong Kong considerou, no passado dia 15 de dezembro, Jimmy Lai Chee-ying culpado de violar a lei de segurança nacional da região chinesa.
Jimmy Lai foi considerado culpado de conluio com entidades estrangeiras ao abrigo da lei de segurança nacional imposta por Pequim em 2020 e revista em 2024, em resposta aos protestos antigovernamentais, por vezes violentos, de 2019.
O fundador do jornal pró-democracia Apple Daily, atualmente banido, foi ainda condenado por "publicações sediciosas" relativas a 161 artigos, incluindo editoriais assinados com o seu nome.
O Tribunal Superior de Hong Kong marcou para 12 de janeiro uma audiência, com a duração máxima de quatro dias, onde a defesa de Lai, de 78 anos, poderá apresentar eventuais atenuantes, antes de a sentença ser conhecida.
Os três crimes de que o cidadão britânico foi considerado culpado podem acarretar a pena de prisão perpétua.
Lai foi julgado por três juízes, incluindo a lusodescendente Susana D'Almada Remedios, escolhidos pelo Governo para lidar com casos ligados à lei de segurança nacional imposta em 2020 por Pequim, para pôr fim à dissidência em Hong Kong.
"Não temos dúvidas de que [Lai] nunca se desviou da sua intenção de desestabilizar o Governo", afirmou a juíza Esther Toh, ao ler parte da decisão, cujo documento completo tem 855 páginas.
A magistrada disse que as provas demonstram que, ainda antes da aprovação da lei de segurança nacional, o magnata já tinha feito "convites constantes" aos Estados Unidos para ajudar a derrubar as autoridades chinesas, não apenas em Hong Kong.
O tribunal considerou que Lai era o cérebro de uma conspiração que procurava a queda do Partido Comunista Chinês, mesmo que isso significasse sacrificar o povo da China e de Hong Kong, acrescentou Toh.
Durante o julgamento, que começou em dezembro de 2023, Lai declarou-se inocente e afirmou nunca ter defendido o separatismo ou a resistência violenta. Também negou ter apelado a sanções ocidentais contra a China e Hong Kong.
Hong Kong rejeita "calúnias e difamações" do G7 sobre Jimmy Lai
O Governo de Hong Kong afirmou que "repudia veementemente as calúnias e difamações" dos diplomatas do bloco G7 sobre a condenação do antigo magnata da comunicação social Jimmy Lai Chee-ying.
Lusa | 05:56 - 19/12/2025
