"Poczobut é prisioneiro político n.º1 para Lukashenko. Talvez refém n.º1"

  • 31/12/2025

A dias da cerimónia de entrega do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2025, que laureou os jornalistas Andrzej Poczobut e Mzia Amaglobeli, detidos na Bielorrússia e na Géorgia, respetivamente, o regime de Alexander Lukashenko libertou 123 prisioneiros, em troca do levantamento de sanções por parte dos Estados Unidos. Andrzej Poczobut, contudo, não constava da lista, apesar das informações recolhidas pelos seus apoiantes que apontavam nesse sentido.

 

O jornalista polaco-bielorrusso, que foi representado em Estrasburgo pela sua filha Jana Poczobut, já acumulava detenções muito antes de ser condenado a uma pena de prisão de oito anos, que cumpre numa colónia penal desde 2021. A saúde do opositor de Lukashenko tem vindo a deteriorar-se, mas não só lhe são negados cuidados médicos, como também visitas da família. Aliás, o ex-deputado do Sejm (câmara baixa do parlamento) polaco e defensor dos direitos humanos na Polónia Robert Tyszkiewicz salientou, em conversa com o Notícias ao Minuto, que Andrzej Poczobut é, neste momento, "o prisioneiro político número um para Lukashenko; talvez até mesmo o refém número um", ainda que o galardão possa atuar como "uma proteção" na prisão.

O político, que frisou que o ativista continua a sua luta atrás das grades, alertou também que "uma das razões pelas quais ele permanece na prisão é o facto de ser um líder simbólico da comunidade polaca", que "acredita que a Bielorrússia pode ser diferente, que pode ser um país normal, onde as pessoas que lá vivem também têm direitos". Apelou, por isso, a que a União Europeia (UE) continue a aplicar pressão ao regime e a mostrar solidariedade, uma vez que "ainda é possível ser detido por uma publicação errada nas redes sociais, ou pelo facto de ter participado numa manifestação [e ser visto] numa fotografia de há três anos".

É óbvio que Poczobut se tornou o prisioneiro político número um para Lukashenko; talvez até mesmo o refém número um, porque é assim que Lukashenko trata os seus prisioneiros políticos. Tenho de reforçar que não é só Poczobut que permanece detido; há mais de mil pessoas na prisão na Bielorrússia

Há alguns dias, 123 presos políticos foram libertados na Bielorrússia. Como é que se sentiu ao constatar que Andrzej Poczobut não estava na lista de nomes?

Estávamos à espera disto há quatro anos, porque Andrzej Poczobut foi condenado num julgamento injusto, com base em acusações falsas. Ele é completamente inocente. Desde então, a Polónia tem pedido a sua libertação. E, claro, ficámos todos muito desapontados com o facto de, mais uma vez, ele não estar entre os prisioneiros libertados. É óbvio que Poczobut se tornou o prisioneiro político número um para Lukashenko; talvez até mesmo o refém número um, porque é assim que Lukashenko trata os seus prisioneiros políticos. Tenho de reforçar que não é só Poczobut que permanece detido; há mais de mil pessoas na prisão na Bielorrússia. Além disso, todas as semanas há mais e mais prisioneiros.

Nessa linha, qual é o impacto do Prémio Sakharov para o caso de Andrzej?

Tem uma importância enorme para Andrzej Poczobut. Deixe-me lembrar-lhe o que Ales Bialiatski disse há dois dias [dia 14 de dezembro], logo após a sua libertação. Ele disse que talvez não tenha sido torturado fisicamente ou espancado devido ao facto de ter sido laureado com o Prémio Nobel. Talvez o Prémio Nobel o tenha defendido de ser torturado na prisão. Portanto, este tipo de distinção, este tipo de símbolo de solidariedade da comunidade internacional, pode ser um escudo protetor para Andrzej Poczobut, mesmo que permaneça na prisão. É claro que também é um enorme apelo à sua libertação em nome da comunidade internacional. Por um lado, é uma proteção para ele na prisão, mas também é um sinal de solidariedade e um apelo à sua libertação, e estamos muito gratos ao Parlamento Europeu por isso.

Notícias ao MinutoFilha e representante de Andrzej Poczobut, Jana Poczobut, com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola© Daina LE LARDIC/European Union 2025  

A imprensa polaca avançou que era suposto Andrzej estar na lista, mas ter-se-á recusado a assinar um perdão. Tem alguma informação sobre isto? 

Isso não é verdade. Mais uma vez, deixe-me lembrar-lhe do que Ales Bialiatski disse depois de deixar a Bielorrússia, quando já estava em Vilnius. Ele disse que não tinha assinado nenhum pedido de perdão a Lukashenko e, apesar disso, foi libertado. A maioria desses prisioneiros nunca pediu nada, nunca pediu qualquer perdão, muitos deles não faziam ideia de que seriam libertados. Foi uma decisão e eles foram transportados para a Ucrânia, para a Lituânia. Não é por isso que Andrzej continua na prisão.

Considera que Andrzej é um símbolo da repressão da minoria polaca na Bielorrússia, ou a sua detenção é apenas uma questão liberdade de imprensa?

Na minha opinião, uma das razões pelas quais ele permanece na prisão é o facto de ser um líder simbólico da comunidade polaca. É uma comunidade de mais de meio milhão de pessoas. São pessoas que mostraram que podem lutar pelos seus direitos e que são capazes de se organizar. Creio que Lukashenko está a enviar-lhes um sinal para que se mantenham calados, e Poczobut é um símbolo. Lukashenko está a alertar: “Tenham medo, não façam nada, porque podem acabar como ele.” Por isso, claro que penso que esta não é a única razão pela qual ele está detido, mas é uma das razões pelas quais ele é um líder importante para a comunidade polaca na Bielorrússia.

Numa das cartas enviadas, escreveu uma frase que pode ser considerada o seu credo ou lema de vida: “Não escolhemos os tempos em que vivemos, mas podemos escolher a forma como vivemos nesses tempos.” Considero que esta é a melhor ilustração do que é importante para ele

Qual é o estado atual da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão na Bielorrússia?

É inexistente. É um facto. Não há meios de comunicação independentes. As únicas publicações independentes são impressas no estrangeiro, fora da Bielorrússia. Jornalistas e pessoas que trabalhavam para meios de comunicação independentes estão na prisão. Pode ir-se para a prisão por fazer uma publicação errada ou por gostar de uma publicação errada nas redes sociais, que são monitorizadas de perto pelo regime. O único canal de comunicação é estatal e, cada vez mais, a imprensa russa. Vale a pena notar que, durante o seu tempo no poder, Lukashenko tem russificado a Bielorrússia. Toda a educação é ministrada na Rússia, em russo. Não há escolas em língua bielorrussa. Até mesmo as escolas de língua polaca foram fechadas. Portanto, além da propaganda estatal, há também a ofensiva da propaganda russa. 

Qual é o nível de comunicação dentro da Bielorrússia? Como é a comunicação da Polónia com a minoria polaca na Bielorrússia? E, mais especificamente, como é que comunicam com os presos políticos? Qual é o processo para saber informações sobre o estado de Andrzej?

O advogado dele visita-o de vez em quando. Às vezes, raramente, ele consegue escrever uma carta para casa. Este ano, também recebeu a visita de Andżelika Borys, líder da União do Povo Polaco na Bielorrússia. Todos enfatizam uma coisa: embora sofra muito fisicamente, ele é extremamente forte mental e psicologicamente. Tem um caráter muito forte e diz que vai sobreviver. É uma pessoa inquebrável. Numa das cartas enviadas, escreveu uma frase que pode ser considerada o seu credo ou lema de vida: “Não escolhemos os tempos em que vivemos, mas podemos escolher a forma como vivemos nesses tempos.” Considero que esta é a melhor ilustração do que é importante para ele. 

Alerto todos para este facto: ele não é um político, nunca participou em nenhuma eleição. Sempre foi jornalista, um ativista social, um ativista da minoria polaca, um historiador. Um homem de letras, letras livres, mas nunca foi um político. Lutou pelos seus direitos, mas nunca se juntou ao mundo da política. É também daí que vem a sua autoridade. Ele não faz isto para estar no poder, nunca o fez. Ele faz o que faz porque acredita que a Bielorrússia pode ser diferente, que pode ser um país normal, onde as pessoas que lá vivem também têm direitos. Ele é uma pessoa verdadeiramente heroica. 

Não há democratização, nenhuma mudança na lei, nenhuma liberalização. Ainda é possível ser detido por uma publicação errada nas redes sociais, ou pelo facto de ter participado numa manifestação e alguém a encontrar numa fotografia de há três anos

De que forma é que Andrzej continua a sua luta atrás das grades? 

Há quase 45 anos que mostra que o regime não pode ter esperança de que ele mude de posição, que implore por perdão. Ele diz que não quer perdão, quer justiça, porque foi injustamente condenado. Portanto, isso é um símbolo de que os princípios são o mais importante para ele. Andrzej é historiador, conhece muito bem a história da União Soviética. Por isso, também escreve sobre outras pessoas que estiveram na mesma prisão durante daquela era, e que sofreram muito, e fá-lo de forma consciente. Ele está na prisão, por isso não pode falar connosco, mas o seu espírito inquebrável mostra que os seus princípios são o mais importante para ele e que nunca os abandonará. Penso que há muitos exemplos na história de pessoas que deram testemunho dos valores em que acreditavam, mesmo estando na prisão, e que puderam dar esperança a outras pessoas de que esses princípios e a verdade podem prevalecer. Ele é definitivamente uma dessas pessoas. É um símbolo tanto para os polacos, como para os bielorrussos, para ambas as nações vizinhas. É uma pessoa simbólica.

E quanto à intervenção norte-americana? Deu conta de mudanças no que diz respeito ao número de detenções?

Todos ficaram contentes por o governo norte-americano ter conseguido libertar essas pessoas. É claro que é uma ótima notícia para todos, mas no que diz respeito ao funcionamento do regime, não houve nenhuma mudança nas perseguições. Há novos prisioneiros a toda a hora. Portanto, de momento, esses prisioneiros políticos são reféns e podem ser trocados por alguns benefícios comerciais. Não há democratização, nenhuma mudança na lei, nenhuma liberalização. Ainda é possível ser detido por uma publicação errada nas redes sociais, ou pelo facto de ter participado numa manifestação e alguém a encontrar numa fotografia de há três anos. Infelizmente, por enquanto, não temos sinais de democratização naquele país.

Politicamente, Lukashenko está determinado a sentar-se à mesa de negociações no processo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. A Bielorrússia apoiou a Rússia na sua agressão à Ucrânia e ele está preocupado que a Bielorrússia não seja incluída no plano de paz e nas negociações. Nessa linha, Lukashenko pode estar disposto a fazer algumas concessões, se lhe for permitido participar neste processo. Talvez possa ser introduzida algum tipo de amnistia geral, mas acho que é muito cedo para dizer algo sobre isso, porque todo o processo de paz está numa situação muito incerta. Mas Lukashenko sonha com isso, com estar lá, fazer parte do processo, e acho que esse é um dos temas que ele aborda nas suas conversas com os norte-americanos. O facto é que 123 pessoas foram libertadas, mas mais de mil continuam nas prisões e, no que diz respeito aos direitos humanos, à liberdade, não houve mudanças a nível legal.

Notícias ao Minuto Jana Poczobut com a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e com a jornalista e representante de Mzia Amaglobeli, Irma Dimitradze© Philippe BUISSIN/European Union 2025  

Acredita que há alguma possibilidade de mudança através da pressão europeia? Qual o papel da UE? 

A Europa tem um papel enorme a desempenhar. Lukashenko e a Bielorrússia são vizinhos da UE, por isso estão interessados no levantamento das sanções europeias e querem voltar a negociar com a Europa. Economicamente, a Bielorrússia encontra-se numa situação muito difícil. Creio que devemos manter toda a pressão e fazer uso de todos os instrumentos de que dispomos para pressionar a favor de mudanças e de diálogo. De momento, não há vontade de o fazer por parte da Bielorrússia. Portanto, se não há vontade de dialogar por parte do regime, penso que devemos aumentar a pressão, porque não existem condições para nos sentarmos à mesa de negociações. A administração norte-americana está, de certa forma, sentada nesta mesa, mas apenas no que diz respeito a um leque muito restrito de sanções.

A Bielorrússia quer vender potássio. É o único recurso natural que tem e que pode exportar. Assim, há pequenos acordos com um impacto muito limitado na situação interna. Lukashenko quer manter-se no poder e isso é o mais importante para ele. O objetivo mais importante nem sequer é chegar a um acordo com os norte-americanos, porque apenas lhe interessa se as coisas o fortalecem ou o ameaçam. Qualquer liberalização na Bielorrússia é perigosa para si, é por isso que a situação não muda. Portanto, pressão e solidariedade: é nisso que a UE deve apostar e o Prémio Sakharov faz exatamente isso.

Leia Também: Polónia acusa Bielorrússia de provocação após violação de espaço aéreo

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2910065/poczobut-e-prisioneiro-politico-n1-para-lukashenko-talvez-refem-n1#utm_source=rss-mundo&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


#Compartilhe

Aplicativos


Locutor no Ar

Peça Sua Música

No momento todos os nossos apresentadores estão offline, tente novamente mais tarde, obrigado!

Anunciantes