Megaoperação no Rio de Janeiro: O que se sabe e o que falta esclarecer?
- 30/10/2025
A megaoperação realizada na terça-feira contra o Comando Vermelho nos complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, causou pelo menos 121 mortes e já entrou para a história como a mais letal já registada naquele estado. No entanto, ainda há versões contraditórias e dúvidas por esclarecer.
Os dados da Polícia são inferiores aos apresentados pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que referiu que 132 pessoas foram mortas, depois de moradores dos bairros afetados terem estado à procura de familiares desaparecidos e começado a reunir e expor dezenas de corpos numa praça.
'Bodycams'
Segundo o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, foram usadas 'bodycams' durante a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, conforme ditam as regras para este tipo de operações em favelas.
As baterias das câmeras têm uma duração aproximada de 12 horas, revela o G1, e parte das imagens pode ter-se perdido por falta de bateria.
O que ainda não foi esclarecido é quantos dos agentes da polícia usavam as bodycams e que imagens foram, de facto, gravadas. Também não se sabe em que momento as gravações foram interrompidas ou como será agora feita a análise desses vídeos.
'Muro do Bope', a estratégia utilizada pela polícia
Na conferência de imprensa dada ontem, Marcelo de Menezes explicou também que a polícia utilizou o chamado "muro do bope" - uma estratégia para cercar os criminosos e empurrá-los para a mata, onde estavam outros agentes de operações especiais.
Segundo o secretário da Polícia Militar, o objetivo dessa tática era conter os confrontos e proteger os moradores, criando uma linha de bloqueio entre as duas comunidades.
O que ainda não se sabe é como é que essa estratégia terá influenciado o número de óbitos e quantos dos mais de 120 mortos foram encurralados na mata.
Corpos na mata
Ainda não há informação precisa, também, sobre quantos corpos foram encontrados, como será feita a identificação das vítimas e se haverá perícias independentes para apurar as causas das mortes. Também não foi estabelecido ainda quando é que as equipas policiais e os peritos vão regressar ao local para realizar os procedimentos formais.
Os moradores encontraram pelo menos 74 corpos na mata, todos do sexo masculino. Estavam na zona da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde os confrontos entre as forças policiais e as fações criminosas se concentraram, noticiou o g1.
Contudo, de acordo com o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, foram contabilizadas 63 vítimas mortais.
Comando Vermelho
A operação levou à emissão de 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de detenção — 70 no Rio de Janeiro e 30 no Pará, contra integrantes do Comando Vermelho.
Ao todo, foram detidos 113 suspeitos, incluindo 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco.
Entre os detidos está Thiago do Nascimento Mendes, um dos chefes do Comando Vermelho da região, e Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de um dos altos chefes do Comando Vermelho.
Ainda não há informações detalhadas sobre quantos dos mortos pertenciam efetivamente à organização criminosa.
Segundo o governador Cláudio Castro, só os quatro polícias mortos "são vítimas", e os restantes terão morrido em confronto com os agentes: "O conflito foi todo na mata. Não acredito que havia alguém passeando na mata".
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, ecoou esta posição, tendo apontado que o "dano colateral" foi "muito pequeno".
Traficante foragido
Edgar Alves Andrade, um traficante conhecido como Doca da Penha ou Urso, considerado o 'chefe' do tráfico nos complexos da Penha e do Alemão, seria um dos principais alvos da operação contra o Comando Vermelho.
Há uma recompensa de 100 mil reais (cerca de 16 mil euros) para quem fornecer informações que levem à detenção do suspeito, de 55 anos.
Doca é investigado por mais de 100 homicídios, incluindo execuções de crianças e desaparecimentos de moradores, relata o G1. Segundo as investigações, ele mantinha o controlo das comunidades à distância, coordenando ações criminosas através de grupos em aplicações de mensagens.
Até ao momento, a polícia ainda não revelou qual pensa ser o paradeiro de Edgar Alves Andrade após a operação.
Quem são os mortos?
Até ontem à tarde, a polícia confirmou mais de 120 mortos na megaoperação no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho. Ao todo, a operação mais letal de sempre naquele estado brasileiro matou quatro polícias e 117 suspeitos.
Mais da metade desses 117 corpos já foi submetido a autópsia no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, no Centro do Rio. Na manhã desta quinta-feira, os corpos periciados já começaram a ser libertados para entrega às famílias. Como alguns dos mortos seriam de outros estados, o instituto solicitou acesso a bancos de dados de fora do Rio para cruzar informações e confirmar as identidades.
Armas apreendidas
Durante a megaoperação, foram apreendidas 118 armas de fogo, entre as quais 91 fuzis, 26 pistolas e um revólver. O volume de armamento apreendido é considerado um dos maiores já registados numa única ação policial no estado, segundo as autoridades.
O que a polícia não revelou é quantas dessas 118 armas foram apreendidas durante os confrontos e quantas estavam em áreas isoladas ou abandonadas após os tiroteios.
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