Megaoperação no Rio de Janeiro: Número de mortos sobe para 132
- 29/10/2025
A Defensoria Pública (o equivalente brasileiro ao sistema português de apoio judiciário), encarregada de oferecer assistência jurídica gratuita, divulgou o novo número de mortos depois de moradores dos bairros afetados terem estado à procura de familiares desaparecidos e começado a reunir dezenas de corpos numa praça.
Funcionários do organismo acompanham desde a madrugada de hoje as buscas no Complexo da Penha, um dos focos da operação, e estão presentes nos institutos de medicina legal responsáveis pela identificação dos cadáveres, segundo um comunicado.
Além disso, a Defensoria Pública afirmou ter recolhido testemunhos de moradores e familiares das vítimas para "contribuir para a necessária resposta institucional perante uma violência estatal nunca antes vista".
Por outro lado, o Governo do Rio de Janeiro continua a manter o número oficial de mortos em 64, incluindo quatro polícias, mas admite que o número possa ser maior.
De acordo com os dados oficiais, foram detidos 81 alegados membros da organização criminosa, foram apreendidos 93 espingardas e "enormes" quantidades de droga.
Em conferência de imprensa, o governador do Rio de Janeiro defendeu que os corpos encontrados hoje são de criminosos.
"O conflito foi todo na mata, não creio que tivesse alguém passeando na mata em dia de conflito. A gente pode tranquilamente classificar e, se tiver algum erro, ele será irrisório. O critério que falamos com tranquilidade é que são criminosos porque, no planeamento, o conflito estava em áreas para não afetar a população", afirmou Cláudio Castro.
Os corpos encontrados pelos familiares, todos de homens, ficaram alinhados lado a lado no chão de uma praça da Penha, à vista dos vizinhos, segundo informações divulgadas pela imprensa local.
Cerca de 2.500 polícias realizaram, na terça-feira, uma megaoperação nas comunidades que compõem os complexos de favelas da Penha e do Alemão, destinada a prender os líderes da organização.
Como represália, membros do grupo criminoso brasileiro Comando Vermelho bloquearam, na terça-feira, várias e importantes vias no Rio de Janeiro, paralisando parcialmente a cidade.
Organizações não-governamentais e o próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) já vieram criticar a brutalidade da operação.
"Estamos horrorizados com a operação policial em curso nas favelas do Rio de Janeiro, que, segundo relatos, já resultou na morte de mais de 60 pessoas, incluindo quatro agentes da polícia", escreveu o ACNUDH, na sua conta oficial da plataforma X.
Cerca de 30 organizações de defesa dos direitos humanos assinaram um comunicado afirmando que a segurança no Rio de Janeiro "não se conquista com sangue" e que a operação, além de expor "o fracasso e a violência estrutural da política de segurança", coloca a cidade "num estado de terror".
O Comando Vermelho dedica-se principalmente ao tráfico de drogas e de armas, e o seu centro de operações situa-se no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da cidade, embora tenha presença em grande parte do país, especialmente na região da Amazónia.
A organização nasceu na década de 1980, quando a ditadura militar concentrou nas mesmas prisões delinquentes comuns e membros de grupos de guerrilha com formação política e até militar.
Leia Também: Brasil: Mais de 70 corpos levados para praça. Total pode superar 130














