Israel demite procuradora após vídeo de violação a detido palestiniano
- 31/10/2025
A major-general Yifat Tomer-Yerushalmi não regressará ao seu posto, "dada a gravidade das acusações que pendem contra si", disse o ministro da Defesa, Israel Katz, num comunicado.
"Vou assegurar-me de que se faça justiça com todos os que participaram na difamação de sangue contra os soldados das Forças de Defesa", afirmou Katz, segundo a agência de notícias espanhola EFE.
O ministro disse ainda que "pretende iniciar o mais rapidamente possível o processo" de escolha do substituto de Tomer-Yerushalmi, a segunda mulher a desempenhar as funções de procuradora-geral militar.
O exército anunciou na quarta-feira uma investigação criminal sobre o vídeo, que se suspeita ter sido divulgado ao Canal 12 de notícias por pessoas próximas do chefe da polícia e de altos cargos da Procuradoria-Geral Militar.
O vídeo, divulgado pelo Canal 12 em 2024, mostra soldados a escolherem um homem que se encontra deitado nu no chão na prisão de Sde Teiman.
Posteriormente, os implicados colocam-no junto a uma parede e violam-no enquanto se cobrem com escudos para ocultar a identidade.
O preso palestiniano "chegou ao hospital em estado potencialmente fatal, com lesões na parte superior do corpo e uma lesão grave no reto", disse a organização não-governamental (ONG) israelita Médicos pelos Direitos Humanos.
Dez militares foram detidos após a divulgação do vídeo, mas cinco foram libertados pouco depois.
As detenções provocaram manifestações violentas de protesto em frente à prisão de Sde Teiman, incentivadas por alguns ministros da extrema-direita, como o da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e o das Finanças, Bezalel Smotrich.
Ben Gvir e Smotrich têm defendido a aplicação de maus-tratos a palestinianos detidos e da pena de morte aos que forem considerados implicados em atos de terrorismo.
Israel aboliu a pena de morte por homicídio em 1954, mas permaneceu nas leis para crimes excecionais, como os relacionados com o Holocausto, genocídio ou traição.
A última execução, de Adolf Eichmann, arquiteto do Holocausto, ocorreu em 1962, e não houve condenações desde a década de 1990.
O atual Governo de coligação de extrema-direita tem defendido que a pena de morte seja novamente aplicada, sobretudo depois dos ataques terroristas de 07 de outubro.
Uma comissão do parlamento aprovou em setembro um projeto de lei que permite a pena de morte para prisioneiros palestinianos acusados de realizar ataques.
O projeto de lei foi elaborado pelo partido de extrema-direita Poder Judeu, liderado por Ben Gvir, mas tem de passar em mais três votações antes de se tornar lei, segundo a agência de notícias turca Anadolu.
Desde o início da ofensiva militar contra Gaza, milhares de palestinianos, principalmente da Faixa de Gaza, foram internados em Sde Teiman, no deserto do Neguev, no sul do país.
A ONG Médicos pelos Direitos Humanos e a Amnistia Internacional documentaram a prática sistemática de torturas, espancamentos e agressões sexuais em Sde Teiman contra palestinianos, muitos deles detidos sem terem sido alvo de acusações formais.
No âmbito do cessar-fogo em Gaza, Israel entregou milhares de palestinianos que estavam detidos no país em troca de reféns, incluindo corpos de presos que as autoridades do enclave palestiniano denunciaram apresentar marcas de torturas.
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