Intuição policial expôs caso Pelicot: O dia em que Dominique foi apanhado
- 19/12/2025
Quase um mês depois de serem condecorados, os dois agentes da polícia que detiveram Dominique Pelicot - o francês condenado por drogar a mulher e permitir que outros homens a violassem - relataram o momento.
Foi no dia 12 de setembro de 2020, já há mais de cinco anos, que os agentes Laurent e François, hoje com 52 e 42 anos, respetivamente, patrulhavam a zona de Carpentras, em Vaucluse, França. No rádio do carro onde seguiam, chegou um alerta para uma situação num supermercado: um homem tinha sido apanhado a filmar por baixo das saias de mulheres.
"Normalmente, é uma equipa de resposta a emergências que lida com ocorrências em Leclerc", explicaram em entrevista ao jornal Vaucluse Matin. "Naquele momento, os nossos colegas estavam ocupados, então, pediram-nos para assumir o caso".
Ao chegarem ao local, foram levados por um segurança até ao suspeito.
"Era um senhor idoso muito bem vestido. Uma bonita camisola de marca, calções e sapatinhos. Bastante elegante. Quase que parecia um santo, não fosse a confissão", recordou Laurent.
O agente, na altura com 47 anos, tentou conversar com o homem e perceber o que o teria motivado a cometer o crime.
"Eu disse-lhe: 'Mesmo assim, fazer isto com a sua idade!' E vejo-o levantar a cabeça e só diz uma palavra: 'Impulso', antes de ficar em silêncio."
O seu parceiro, François, não conseguia aceitar a situação; sentia que algo estava errado. "Não era normal, tendo em conta a idade dele. O que é que ele estava ali a fazer? E os vídeos estavam todos muito bem filmados", recordou.
Na altura, quando foi detido, Dominique Pelicot tinha 68 anos, e era casado há décadas com Gisèle Pelicot, com quem teve três filhos.
Achando a situação suspeita, François decidiu procurar uma das vítimas ainda no supermercado para que ela pudesse fazer uma queixa e, assim, o caso pudesse ser investigado a fundo.
"Quando o viram [as vítimas] disseram: 'Ele é um pobre velhinho, vocês só precisam de apagar os vídeos", contou François.
Mas os dois polícias não largaram o caso, considerando toda a situação "bizarra". "[Dominique Pelicot] teve reações espontâneas. Mas nunca nos disse: 'Por favor, não contem à minha mulher e aos meus filhos", como seria de esperar num caso destes. "Foi estranho. E depois ele não mostrou o menor arrependimento", continuou François.
Os agentes decidiram levar o suspeito e três das vítimas para a esquadra para que pudessem prestar depoimento. Foi nessa altura, que Pelicot fez o seu primeiro pedido: queria ir buscar o cão ao carro.
"De repente ele mudou. Vimos um homem feliz. Ele estava a abraçar o cão. Sentimos que ele era muito apegado ao animal, mas ainda assim ele não disse nada sobre a família. E quando falamos com ele, só respondia: 'Impulso'", recordou Laurent.
No caminho para a esquadra, os agentes comentaram um com o outro que Pelicot "tinha algum problema", estranhando cada vez mais a postura do homem.
"Alguma coisa está errada. Temos de investigar isto melhor", disseram um ao outro na altura, decidindo passar pela casa do suspeito antes de ir até à esquadra.
Ambos relataram uma casa "muito arrumada", enquanto Pelicot assistia à entrada dos agentes não parecendo estar "particularmente preocupado" com a presença das autoridades.
"Deixámos que ele desse comida ao cão e começámos a apreender os equipamentos informáticos dele. Enquanto levávamos as coisas, ele simplesmente ficou parado, sem demonstrar emoção."
Depois, voltaram para a esquadra onde o homem foi interrogado, numa altura em que os agentes ainda não sabiam o que tinham de facto apreendido. No computador de Pelicot as autoridades encontraram milhares de fotos e vídeos de Gisèle Pelicot a ser violada tanto pelo marido como por dezenas de outros homens.
Dominique drogava a comida da mulher, deixando-a num sono profundo, que, segundo os especialistas, estaria à beira de um coma. Durante essas alturas, mais de 70 homens terão abusado da mulher. A Justiça francesa conseguiu identificar e acusar 51 dos violadores.
Dominique Pelicot admitiu os crimes, tendo sido condenado à pena máxima de 20 anos de prisão.
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