Grupo muçulmano recorre contra designação como terrorista na Florida
- 17/12/2025
O Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR, na sigla em inglês) tem mais de 20 filiais no país e o seu trabalho envolve processos judiciais, defesa de direitos civis e divulgação educativa.
O processo visando o governador Ron DeSantis foi aberto na segunda-feira pela Fundação CAIR e pelo CAIR-Florida, a sua filial no estado, solicitando a um juiz federal que declare ilegal e inconstitucional a ordem de DeSantis e impeça a sua aplicação.
DeSantis, refere o processo, "usurpou a autoridade exclusiva do governo federal para identificar e designar organizações terroristas ao declarar, sem qualquer fundamento, o CAIR como uma organização terrorista".
A ordem de DeSantis foi uma das várias ações ou declarações recentes feitas por eleitos republicanos visando muçulmanos ou grupos representativos destes no país.
No domingo, senador norte-americano Tommy Tuberville, republicano do Alabama, publicou nas suas redes sociais que "o Islão não é uma religião", mas sim "uma seita".
Um dia depois, o CAIR classificou Tuberville como um extremista antimuçulmano pelos seus "ataques cada vez mais odiosos e perigosos contra muçulmanos do Alabama".
Tuberville respondeu nas redes sociais que a acusação do CAIR era uma "insígnia de honra", e o seu porta-voz reiterou as palavras do senador.
O deputado norte-americano Randy Fine, republicano da Florida, publicou também na segunda-feira nas suas redes sociais o seu apoio a "uma proibição de deslocações para muçulmanos, deportações radicais de todos os imigrantes muçulmanos, legais e ilegais, e revogação da cidadania sempre que possível".
"Os muçulmanos tradicionais declararam-nos guerra. O mínimo que podemos fazer é expulsá-los da América", escreveu Fine.
Numa conferência de imprensa sobre o processo na Florida, Charles Swift, advogado do Fundo Jurídico Muçulmano da América, classificou as declarações dos representantes eleitos como perigosas e intolerantes.
"A Constituição protege o direito das pessoas a serem intolerantes, não o direito do governo. (...) Quando um governador emite uma ordem executiva para silenciar os muçulmanos, essa é uma questão completamente diferente, porque se ele consegue fazer isso, consegue silenciar qualquer pessoa", disse Swift.
O CAIR afirmou no processo na Florida que sempre condenou o terrorismo e a violência e que DeSantis visou o grupo por defender o direito à liberdade de expressão de pessoas em casos em que as autoridades estaduais tentaram punir ou silenciar os que manifestaram apoio aos palestinianos.
A ordem emitida por DeSantis na semana passada atribui também o rótulo de "terrorista estrangeiro" à Irmandade Muçulmana, um movimento político islâmico pan-árabe.
O presidente Donald Trump emitiu no mês passado uma ordem executiva que inicia um processo para designar certos núcleos da Irmandade Muçulmana como organização terrorista estrangeira.
A ordem do governador determina que as agências governamentais da Florida devem impedir que os dois grupos e aqueles que lhes forneceram apoio material acedam a contratos, empregos e fundos de qualquer agência executiva ou ministerial estadual.
A Florida tem cerca de 500 mil residentes muçulmanos, segundo o CAIR.
A propósito do caso judicial, DeSantis afirmou recentemente nas redes sociais aguardar "ansiosamente as revelações" do mesmo, "especialmente sobre as finanças do CAIR". "Deve ser esclarecedor!", insinuou.
O governador do Texas, Greg Abbott, emitiu uma proclamação semelhante no estado.
No mês passado, o CAIR pediu a um juiz federal que anulasse a proclamação de Abbott, alegando num processo que esta não só era "contrária à Constituição", como também não era sustentada por qualquer lei do Texas".
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