Família diz que Nobel da Paz foi agredida e privada de exame médico
- 16/12/2025
"Ela tem hematomas no pescoço e na cara", descreveu um dos seus irmãos, Hamid Mohammadi, que vive na Noruega, por videoconferência aos jornalistas reunidos em Paris.
Outro irmão, que vive no Irão, "tentou convencê-los a permitir que um médico independente a examinasse. Mas eles recusaram", disse o mesmo familiar.
O comité de apoio a Narges Mohammadi manifestou na segunda-feira preocupação com a saúde da vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023, que foi levada para o hospital duas vezes desde a sua detenção.
A ativista, de 53 anos, foi detida na sexta-feira na cidade de Mashhad, no leste do país, depois de discursar numa cerimónia de homenagem ao advogado Khosrow Alikordi, que foi encontrado morto no início de dezembro.
O seu paradeiro era desconhecido até um breve telefonema na noite de domingo com a sua família.
Na chamada, Narges Mohammadi relatou que recebeu "golpes repetidos e violentos na cabeça e no pescoço com bastões" durante a sua detenção, escreveu o seu comité de apoio na rede social X.
"O seu estado físico no momento da chamada não era bom e ela parecia estar a sofrer", indicou o comité, acrescentando que "teve de ser levada para o serviço de urgência duas vezes".
Um grupo de ativistas iranianos, incluindo os cineastas Jafar Panahi, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e Mohammad Rassoulof, apelou na segunda-feira para a libertação "imediata e incondicional" de Narges Mohammadi e dos outros detidos.
De acordo com o procurador de Mashhad, Hassan Hemmatifar, 38 pessoas foram detidas durante a cerimónia, incluindo a laureada com o Prémio Nobel e outra ativista conhecida, Sepideh Gholian, por incitarem 'slogans' "contrários às normas".
Um irmão do advogado homenageado foi detido mais tarde nesse dia.
"Esta ação demonstra, mais do que nunca, que a repressão das vozes cívicas sob o pretexto de 'perturbar a ordem pública' é uma manobra premeditada", acusou o grupo ativista no seu apelo.
As imagens da cerimónia mostram Narges Mohammadi --- sem o véu obrigatório para as mulheres em espaços públicos no Irão --- subindo para um carro para discursar para uma multidão que entoava palavras de ordem hostis às autoridades.
A Prémio Nobel, que tinha sido detida pela última vez em novembro de 2021 e mantida em prisão preventiva até ser libertada em dezembro de 2024 devido a problemas pulmonares, passou muitos anos atrás das grades, mas nunca cessou o seu ativismo pelos direitos humanos e pela defesa dos presos políticos.
Durante a chamada telefónica, pediu à sua família que "apresentasse imediatamente e sem demora uma queixa formal contra os serviços de segurança responsáveis pela sua detenção e pela violência que sofreu".
De acordo com a comissão de apoio, "ela insistiu que não sabia qual o serviço de segurança que a estava a deter", mas afirmou que aqueles que a agrediram eram "agentes à paisana".
Narges Mohammadi referiu que foi acusada de "cooperar com o Governo israelita", afirmou também o seu comité de apoio.
As autoridades iranianas ainda não confirmaram qualquer acusação.
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