Dezenas de russos prestam homenagem a vítimas do Estalinismo
- 30/10/2025
"Podemos ver muitos sinais preocupantes. Um regresso é possível", alertou em declarações à agência France-Presse (AFP) Olga, uma enfermeira de 44 anos, enquanto depositava flores no memorial de Butovo, no dia consagrado à memória das vítimas da repressão soviética.
Entre 1937 e 1938, mais de 20 mil pessoas foram fuziladas pela polícia secreta soviética (NKVD) e enterradas em valas comuns no campo de treino militar de Butovo.
Durante estes dois anos, considerados o auge do "Grande Terror" do antigo líder soviético Josef Estaline, mais de 750 mil cidadãos soviéticos foram executados e acima de um milhão acabaram deportados em 'gulags' (campos de concentração), segundo estimativas dos historiadores.
Quase nove décadas depois, o regime do atual Presidente russo, Vladimir Putin, intensificou a repressão dos críticos do Kremlin desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, condenando centenas de pessoas a longas penas de prisão, o que levanta receios do retorno da perseguição política generalizada.
"Esta é a nossa história e devemos aprender com ela", alertou Kristina, uma jardineira de 49 anos, que se deslocou hoje ao local onde o seu bisavô foi fuzilado.
Outra cidadã russa que se deslocou ao local, Tamara Chichkova, também afirmou acreditar que "tudo o que aconteceu em 1937 pode voltar a acontecer a qualquer momento".
Residente numa localidade nas proximidades do memorial de Butovo, a professora reformada de 61 anos lamenta que os seus vizinhos ignorem a importância de prestar homenagem às vítimas do Estalinismo.
Cada um "vive na sua casinha e só pensa nos bens materiais e no quotidiano", criticou, acrescentando que os seus compatriotas "se esqueceram de Deus".
Hoje de manhã, foi realizada uma missa fúnebre na Igreja dos Novos Mártires, situada no terreno do memorial de Butovo. Ao longo do dia, sacerdotes e voluntários leram incessantemente os nomes dos executados.
Lidia, uma historiadora de 58 anos que também se deslocou ao memorial para prestar homenagem ao bisavô assassinado em Butovo, advertiu que, quase 90 anos depois, "não tenha sido realizada qualquer investigação" sobre estas execuções nem os seus autores identificados.
"Não podem ser punidos porque já aconteceu há muito tempo. Mas pelo menos os seus nomes devem ser divulgados, para que isto não se repita", apelou.
Em 2021, as autoridades russas classificaram como ultrassecretos os nomes dos membros da NKVD que executaram o "Grande Terror" de Estaline.
Embora Vladimir Putin condene ocasionalmente os crimes soviéticos, a política do Kremlin é minimizá-los, e as vítimas da repressão recebem pouca atenção nos livros de História.
Estaline é apresentado sobretudo como um herói da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e um vencedor contra a ameaça do III Reich durante o conflito, num contexto de glorificação do poder militar da antiga União Soviética (URSS), sobretudo desde a invasão da Ucrânia, onde o Kremlin afirma estar a combater "neonazis".
Tudo o que está a acontecer na Rússia hoje "é assustador", disse outra mulher sob anonimato à AFP em Butovo, avisando que "monumentos dedicados a Estaline estão a ser erguidos por todo o país".
O Museu da História do Gulag, localizado em Moscovo, "foi encerrado em 2024", condenou, ao considerar que "é um milagre que ainda não se tenha mexido no memorial de Butovo".
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