"Deusa da Riqueza" condenada a 11 anos. Defraudou 128 mil pessoas
- 12/11/2025
A "Deusa da Riqueza" que levou a cabo uma das maiores operações de branqueamento de capitais no mundo foi condenada esta terça-feira a 11 anos e oito meses de prisão no Reino Unido.
Zhimin Qian, de 47 anos, foi detida a 22 de abril do ano passado num quarto de Airbnb num subúrbio de York, na Inglaterra. Na altura, foi surpreendida por uma equipa de agentes da polícia que a deteve no local.
A investigação à mulher de nacionalidade chinesa começou em 2018, há já sete anos, por suspeitas de crime de branqueamento de capitais internacional.
Antes disso, já as autoridades chinesas a procuravam: defraudou mais de 128 mil reformados na China entre 2014 e 2017, num total que ronda os 40 mil milhões de yuan (cerca de de 4,8 mil milhões de euros).
Qian convencia reformados a investirem dinheiro na sua empresa, que dizia estar a desenvolver produtos de saúde de alta tecnologia, assim como a investir em criptomoedas. Na verdade, segundo as autoridades, Qian estava a desviar os fundos para proveito próprio.
Em 2017, Qian fugiu da China, rumo ao Reino Unido com um passaporte das Caraíbas e um nome falso. Em Inglaterra, encontrou-se com Jian Wen, de 42, que recrutou através das redes sociais para a ajudar a continuar os crimes. Juntas, mudaram-se para uma casa em Hampstead, no norte de Londres, cuja renda ultrapassava os 19 mil euros por mês.
Ao longo das 48 semanas seguintes, a dupla levou a cabo uma autêntica maratona de compras, que passou por 24 localizações na Europa distintas: compraram relógios, diamantes, roupas de designers de moda, e demais objetos de luxo, numa tentativa de lavar o dinheiro que Qian tinha obtido ao defraudar reformados na China.
Enquanto a mulher esbanjava o dinheiro roubado, outras 80 pessoas eram condenadas no seu país natal pelo esquema.
Na Europa, Qian fazia-se passar por uma magnata internacional de joalharia, com Wen a agir como seu mordomo. Numa das suas maratonas de compras, a dupla gastou mais de 130 mil euros (cerca de 119 mil libras) em dois relógios numa loja da da Van Cleef & Arpels em Zurique, na Suíça.
Compra de dois imóveis de luxo alertou as autoridades inglesas
As autoridades só começaram a suspeitar de um eventual crime quando Qian e Wen tentaram comprar uma mansão de mais de 27 milhões de euros (24 milhões de libras) numa mansão em Hampstead High Street e uma outra propriedade em Totteridge de 14 milhões de euros (12,5 milhões de libras) em 2018.
Nesse mesmo ano, no final de outubro, a polícia invadiu a propriedade alugada pela dupla para uma busca inicial. Qian foi encontrada pelos agentes debaixo dos cobertores. Quando questionada sobre quem era, mentiu, dizendo que se chamava Yadi Zhang e que sofria de lesões cerebrais e nas pernas.
No cofre desse mesmo quarto, as autoridades descobriram um bloco de notas com os dados de login dos seus computadores portáteis e as chaves de acesso às carteiras online que continuam a fortuna de Qian - mal sabia a polícia que a informação os iria levar à maior apreensão individual de criptomoedas do mundo.
Ao todo, foram apreendidas 61 mil bitcoins, que têm um valor de mercado atual que ronda os 5,7 mil milhões de euros (5 mil milhões de libras). Fora da criptomoeda, foram apreendidos outros ativos no valor de 227 milhões de euros (200 milhões de libras).
Mas não só. Foram ainda descobertas elevadas quantias em numerário, nomeadamente em euros, dólares americanos e francos suíços. Num cofre de segurança em Harrods, Londres, os agentes encontraram ainda um telemóvel e dois computadores portáteis com milhões de euros em criptomoedas.
Apesar de os objetos apreendidos serem suspeitos, as autoridades decidiram não deter nem Qian nem Wen, nessa altura.
Qian enceta fuga e só é localizada em 2025
As buscas, no entanto, foram o suficiente para a mulher conhecida como a "Deusa da Riqueza" encetar, de novo, fuga, passando os seus anos seguintes desaparecida.
Em 2021, três anos depois, Wen foi detida na mesma casa em Hampstead, sendo posteriormente condenada a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro.
Só passados outros três anos é que Qian foi localizada pelas autoridades e detida. Tal como em 2018, a mulher estava na cama, tapada com cobertores quando a polícia entrou pelo quarto adentro. À semelhança da sua cúmplice, foi acusada de crimes de branqueamento de capitais.
Em tribunal, Qian declarou-se culpada de dois desses crimes. Contudo, o seu advogado de defesa afirmou que a "Deusa da Riqueza" nunca teve a intenção de cometer fraude, "mas reconhece que os seus esquemas eram fraudulentos e enganaram aqueles que confiaram nela".
"Ela lamenta profundamente o sofrimento causado aos investidores e espera que algo de bom resulte da riqueza que o seu trabalho criou", acrescentou o advogado, frisando que a sua cliente "não tem antecedentes criminais" e manteve um "comportamento exemplar" enquanto esteve detida.
Qian foi condenada a 11 anos e oito meses de prisão.
Após a leitura da sentença, o chefe de crimes económicos e cibernéticos da polícia inglesa considerou que esta foi uma das "mais e mais complexas" investigações levadas a cabo por esta força.
A fortuna digital de Qian, que vale vinte vezes mais do que em 2017, quando chegou ao Reino Unido, é agora o foco de uma batalha judicial que deverá começar no início do próximo ano. Os ativos vão ser disputados no Supremo Tribunal pelo governo do Reino Unido e as milhares de vítimas chinesas.
Os procuradores tentaram criar um esquema de compensação, mas a representação das vítimas alega que os seus clientes não devem recuperar apenas aquilo que investiram. Defendem que à semelhança do que aconteceu com a fortuna de Qian, também o investimento (e, agora, compensação) dos lesados deve refletir a valorização dos ativos ao longo dos anos.
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