Das "decisões erradas" aos líderes "fracos". Que diz Trump sobre Europa?
- 09/12/2025
Os Estados Unidos tem 'apontado baterias' à Europa, arrasando as lideranças e vincando, num documento estratégico sobre segurança nacional, que "se as tendências atuais continuarem, o continente [Europa] vai ficar irreconhecível dentro de 20 anos ou menos". O presidente Donald Trump também já veio (em nome próprio), recomendar à Europa "muito cuidado", porque, no seu entender, está a tomar "algumas decisões erradas".
O documento de 33 páginas, divulgado na passada sexta-feira, dia 5 de dezembro, foi analisado pela agência de notícias francesa AFP e, no prefácio, Trump resumiu: "Pomos a América em primeiro lugar em tudo o que fazemos". As críticas ao bloco europeu não se fizeram esperar, com o chefe de Estado norte-americano a salientar que "é mais do que plausível que, em poucas décadas, no máximo, os membros da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte, na sigla inglesa) se tornem predominantemente não europeus".
E acrescentou: "É legítimo questionar se eles perceberão seu lugar no Mundo ou sua aliança com os EUA, da mesma forma que aqueles que assinaram a carta da organização".
Já a Casa Branca lamentou decisões europeias que "minam a liberdade política e a soberania, as políticas migratórias que estão a transformar o continente [Europa] e a criar tensões, assim como a censura à liberdade de expressão e a repressão à oposição política, a queda nas taxas de natalidade e a perda de identidades nacionais".
Washington manifestou ainda o desejo de que "a Europa permaneça europeia, recupere sua autoconfiança civilizacional e abandone a sua obsessão infrutífera com o sufoco regulatório".
Ontem, dia 8 de dezembro, Donald Trump 'voltou à carga', recomendando à Europa "muito cuidado", devido a "algumas decisões erradas" no que diz respeito aos temas da segurança e imigração.
"A Europa deve ter muito cuidado", disse o presidente americano à imprensa na Casa Branca, acrescentando: "A Europa está a tomar certas decisões erradas, o que é muito mau, muito mau para as pessoas. Não queremos que a Europa mude tanto".
E, esta terça-feira, dia 9, numa entrevista ao Politico, Donald Trump continuou a fazer-se ouvir. Denunciou que os líderes europeus "não sabem o que fazer", acusando-os de exagerarem no politicamente correto e de falharem no controlo da imigração, situação que, na sua leitura, poderá levar ao desaparecimento de alguns países europeus enquanto Estados viáveis.
O chefe de Estado norte-americano classificou também a Europa como um conjunto de nações "em decadência", lideradas por responsáveis "fracos", e apontou cidades como Londres e Paris como exemplos de sistemas sob pressão devido à imigração proveniente de África e do Médio Oriente.
Sobre a guerra na Ucrânia, Trump considerou que a Rússia está numa posição mais forte do que Kyiv e minimizou o papel dos líderes europeus no processo de paz, dizendo que "falam, mas não mostram resultados".
Europa não pode aceitar uma "ameaça de interferência"
Em 'resposta' ao documento que divulgou a nova estratégia de segurança dos EUA - e critica os europeus - o presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou, na segunda-feira, que a Europa não pode aceitar uma "ameaça de interferência" na sua vida política.
"O que não podemos aceitar é esta ameaça de interferência na vida política da Europa", declarou António Costa, numa intervenção no Instituto Jacques Delors, salientando que "os Estados Unidos não podem substituir os cidadãos europeus na escolha de quais são os bons partidos e os maus partidos".
"Temos diferenças nas nossas visões do mundo, mas isto vai para além disso. Esta estratégia continua a falar da Europa como uma aliada, mas, se somos aliados, devemos agir como aliados" e respeitar a soberania uns dos outros, defendeu António Costa.
Para o presidente do Conselho Europeu, "os Estados Unidos continuam a ser um aliado importante, os Estados Unidos continuam a ser um parceiro económico importante".
"Mas a nossa Europa tem de ser soberana", concluiu.
Trump reagiu hoje, na mesma entrevista do Politico, a estas críticas - nomeadamente ao facto de António Costa acusar Washington de interferir na vida democrática europeia -, reiterando que irá apoiar explicitamente líderes e forças políticas europeias que partilhem a sua visão estratégica.
"Irei apoiar. Já apoiei pessoas que muitos europeus não apreciam", assegurou Trump, citando como exemplo o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, elogiado pelas suas políticas de controlo de fronteiras, consonantes com o novo plano estratégico de política externa divulgado pela Casa Branca.
De recordar que as relações entre os dois aliados - EUA e Europa - ficaram tensas em várias questões desde o regresso ao poder de Donald Trump em janeiro, desde a aproximação dos Estados Unidos à Rússia até ao apoio declarado aos partidos conservadores ou de extrema-direita no 'Velho Continente'.
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