Centros de burlas em Myanmar relocalizados antes de operação conjunta
- 26/12/2025
Os "grupos criminosos mais capazes já se tinham deslocado antes da operação policial", afirmou à Lusa a ativista Li Ling, cofundadora da EOS Collective, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2024 para investigar a dinâmica da indústria de fraudes online e as redes criminosas por detrás da mesma, que presta também apoio a sobreviventes de operações criminosas forçadas.
No mesmo sentido, a Global Anti Scam Organization (GASO) começou por apontar à Lusa ser "impossível" que as autoridades tenham erradicado todos os centros do género no país, sublinhando que "um único centro pode albergar mais de 10 mil pessoas, e existem cerca de 350 centros em todo o Myanmar."
A China repatriou 952 suspeitos de cibercrimes da cidade de Myawaddy, em Myanmar, junto à fronteira com a Tailândia, no âmbito de uma operação conjunta com as autoridades birmanesas e tailandesas, informou esta quinta-feira a agência Xinhua.
Desde o início deste ano, mais de 7.600 cidadãos chineses suspeitos de fraudes através da internet e aplicações de mensagens em Myawaddy foram repatriados, segundo dados do ministério chinês da Segurança Pública.
Winston Wang, um técnico da GASO, afirmou que apenas em Myawaddy funcionam cerca de 50 centros, estimando-se que outros 300 estejam em operação no norte de Myanmar.
O ativista recordou o caso do "KK Park", nome de um grande complexo de burlas no município de Myawaddy, localizado na fronteira com a Tailândia junto ao rio Moei, que chegou a albergar cerca de 30.000 pessoas antes de ser alvo de uma ação policial.
Após essa operação, acrescentou Wang, muitos indivíduos "foram transferidos para o norte de Myanmar para continuar atividades fraudulentas, enquanto outros foram deslocados para o Camboja, vendidos ou realojados para estabelecer novas operações de burla noutros locais".
No vizinho Camboja, a atividade está a "expandir-se", com "mais de 250 centros de burla" atualmente em funcionamento, sublinhou Li Ling em declarações à Lusa.
No caso de Myanmar, estes centros de cibercrimes proliferaram em zonas fronteiriças com a China, beneficiando de um ambiente instável político e em termos de segurança, na sequência do golpe de Estado de fevereiro de 2021 naquele país, que favoreceu a ação de vários tipos de grupos de crime organizado.
De acordo com um relatório das Nações Unidas, pelo menos 120.000 pessoas encontram-se sequestradas em centros em Myanmar, onde são obrigadas a realizar fraudes cibernéticas.
Trata-se de complexos de edifícios, fechados, semelhantes a prisões, onde essas pessoas, enganadas com falsas ofertas de emprego, são obrigadas a cometer fraudes online a partir de computadores, sofrendo "violência extrema", explicaram os autores do relatório da ONU.
A Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) confirma no seu portal da Internet que vítimas de 66 países foram traficadas para centros de burlas 'online' em vários regiões do mundo, sendo que aproximadamente 74% foram levadas para centros no Sudeste Asiático.
Novos polos estão agora a surgir na África Ocidental, Médio Oriente e América Central.
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