Ataque terrorista? "A Austrália já não é um lar para os judeus"
- 16/12/2025
A filha de uma das vítimas do ataque terrorista na praia Bondi, em Sydney, Austrália, afirmou que o pai foi "morto a tiro por ser judeu", acrescentando que acredita que o país não é mais um lugar seguro para os judeus e apontou o dedo ao governo australiano.
Sheina Gutnick revelou à CBS News que o pai, Reuven Morrison, tinha 62 anos e pertencia à comunidade judaica ultraortodoxa. O homem, que nasceu na antiga União Soviética, foi alvejado durante o tiroteio na praia Bondi, que aconteceu no passado domingo.
"Segundo as minhas fontes e daquilo que eu percebi, o meu pai levantou-se assim que os tiros começaram. Ele conseguiu atirar tijolos ao terrorista", contou Sheina, notando que o pai tentou travar os atiradores.
Sheina Gutnick adiantou ainda que Reuven Morrison tentou impedir um dos atiradores momento depois de Ahmed al Almed confrontou um dos suspeitos e o desarmou.
"Acreditamos que depois de Ahmed ter conseguido desarmar um dos terroristas, o meu pai tentou destravar a arma para tentar disparar. Ele estava a gritar com o atirador. O meu querido pai, Reuven Morrison, foi morto a tiro por ser judeu num evento de Hanukkah na praia de Bondi, enquanto protegia vidas, tendo arriscado a sua própria vida para salvar os seus companheiros da comunidade judaica", disse a filha.
De acordo com a CBS News, há um vídeo publicado nas redes sociais que mostra Reuven Morrison a atira objetos contra um dos suspeitos do ataque terrorista depois de Ahmed o ter desarmado.
Sheina descreveu o momento em que soube que o pai estava entre as vítimas mortais do tiroteio como devastador.
"Quando a minha família estava a sair de um evento do Hanukkah, em Melbourne, um amigo deu-nos a notícia de que estava a haver um tiroteio em Sydney. Senti um aperto no estômago imediatamente e tentei ligar para o meu pai, que não atendeu. Liguei então para a minha mãe e ouvi gritos. Ela gritava que havia um atirador ativo", explicou.
E acrescentou: "Liguei novamente e ela gritava e dizia que ele estava a correr e que tinha sido baleado. Gritou por assistência médica, por ajuda, por uma ambulância e implorava por socorro. Depois informou-se que ele estava a receber oxigênio e desligou o telefone".
A jovem contou ainda que voltou a falar com a mãe pouco depois e que o pai já estava morto. "Ela estava a gritar porque tinham parado de o tentar reanimar e que tinha sido coberto por um lençol. Eu esperava, tendo em conta o seu estado histérico, que ela estivesse a delirar, mas não foi o caso".
Na entrevista, Sheina Gutnick admitiu ainda que considera que a Austrália deixou de ser um país seguro para a comunidade judaica e apontou o dedo ao governo australiano, acusando os líderes de não saberem lidar com a crescente onda de antissemitismo no país.
"A Austrália já não é um lar para os judeus. Não pode ser. Se formos mortos a tiro enquanto celebramos o nosso festival religioso das luzes, do orgulho, da celebração de quem somos, se não pudermos fazer isto, a Austrália não é um lugar seguro para nós. Não podemos ficar aqui", constatou.
A filha de Reuven Morrison contou ainda que o pai fugiu da União Soviética devido à perseguição antissemita de há 50 anos e disse ter ficado com um sentimento de "traição" tendo em conta a forma com o progenitor morreu.
"Ele veio para a Austrália porque pensou que aqui estaria seguro. Aqui, ele ia formar uma família e ia viver uma vida longe da perseguição. E, durante muitos anos, isso aconteceu. Viveu uma vida maravilhosa e livre até que a Austrália se virou contra ele", afirmou.
"Sinto-me traída pelo governo. Sinto que os sinais estavam presentes há muito tempo e o governo ficou de braços cruzados", continuou.
O que é que aconteceu em Sydney?
Dois homens armados com espingardas abriram fogo contra a multidão reunida num parque próximo à praia de Bondi, uma das mais movimentadas e turísticas do país, por volta das 18h40, hora local (07h40 em Lisboa), de domingo.
Catorze pessoas - incluindo um dos assaltantes - morreram no local do crime e outras duas, nomeadamente uma menina com 10 anos e um homem de 40, faleceram posteriormente no hospital.
Pelo menos 42 pessoas ficaram feridas, sete das quais continuam em estado crítico.
Atentado motivado "por ideologia" do Daesh
Anthony Albanese declarou que o ataque a uma multidão, que comemorava a festa judaica do Hanukkah numa praia de Sydney, parece ter sido "motivado pela ideologia" do grupo "Estado Islâmico".
As autoridades qualificaram o ataque de antissemita, mas até agora tinham dado poucos detalhes sobre as motivações dos atacantes.
Esta terça-feira, Anthony Albanese forneceu uma das primeiras indicações de que os dois homens tinham-se radicalizado antes de cometer o "assassinato em massa".
"Parece que isto foi motivado pela ideologia do Estado Islâmico" (EI), afirmou o chefe do executivo.
O grupo terrorista EI controlou vastos territórios no Iraque e na Síria, antes de ser derrotado em 2019, mas ainda tem células adormecidas de combatentes no país.
Albanese declarou que Naveed Akram, de 24 anos, tinha sido sujeito a verificações dos serviços secretos australianos em 2019, sem aparentar representar na altura uma ameaça imediata.















